Recomendação do Recanto




"Não subestime o desprezo absoluto das pessoas. Tornar-se um pária não é fácil. As pessoas acreditam que o diabo é Satan. Ignoram que o mundo é muito mais antigo que o cristianismo. Tudo para essas pessoas ignorantes é coisa do “diabo”. E julgam, recriminam e segregam. Ainda que isso seja um pecado diante de Deus. Porém, estranhamente é exatamente esse comportamento hipócrita e preconceituoso que a Igreja incentiva. É tudo tão absurdo. E afinal o que são os pecados? É uma maneira de controle do ser humano, de condená-lo, de inserir culpa pelos seus desejos naturais, de submetê-lo, de castrar seus pensamentos. É tudo tão ridículo."

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Por uma releitura de LaVey

Escrito por Recanto do Opositor

Ah, o tempo! Nada como o movimento ininterrupto deste limite para dar alguma graça às nossas vidas. Ou não. Filosofia de buteco à parte, diferentemente das... ou melhor, igual a todas as coisas neste mundo, somos vítimas eternamente condenadas a poder ser amanhã o que não somos hoje, e sermos hoje o que ainda não éramos ontem. Parece simples, mas não é óbvio... Não a quaisquer olhos.

E assim como nós, seres humanos, carne temperada com pensamento, nos modificamos perante o tempo, o contrário não poderia ocorrer com as produções de nossos semelhantes. Fato é que certas obras de arte possuem uma qualidade e uma profundeza tal que mesmo tendo sido escritas a séculos atrás ainda permanecem atuais. Mas, naturalmente, não poderíamos, por exemplo, esperar que Romeu trocasse emails com Julieta.

LaVey, por mais criativo que tenha sido, e de certo o foi, também traz consigo inexoravelmente as marcas de seu tempo. Por mais que ele não esteja assim tão longe da época desde que lhes escreve e de você que está a ler, encontramos-nos sim em momentos distintos da história. Para quem não se lembra, a Bíblia Satânica, expoente máximo do pensamento Satanista, foi publicado em 1969. De lá pra cá já são exatos 40 anos. E levando em consideração nossa frenesi moderna, isto significa muitas mudanças.

Revolução feminista, boom da internet, rock'n roll, enfim, há livros e mais livros de história para se consultar para percebemos que mudanças foram estas. E mais do que fatos, tivemos uma mudança de pensamento. Principalmente o religioso. E é este que nos importa por agora.

Se hoje em dia temos vídeos e mais vídeos no YouTube cheios de "críticas" ao pensamento cristão ou teísta, em uma forma geral, definitivamente não era assim ao tempo de LaVey. "Deus, um delírio" ainda não era best-seller e o ateus.net ainda nem existia. O pensamento religioso da época era muito mais sólido que o de hoje, principalmente se pensarmos nos Estados Unidos, que em matéria de conservadorismo sempre se destacou.

O que significa dizer que se hoje antes mesmo de alguém ter acesso à Bíblia Satânica, já há um forte pensamento crítico presente no que diz respeito principalmente ao cristianismo, na época de LaVey era preciso muito mais para se chegar a tal ponto. E quanto mais dura é a casca, mais forte temos de bater com o martelo. E é esta simples metáfora que representa justamente o teor crítico presente na Bíblia Satânica.

Se nela encontramos uma série de colocações ácidas, diretas, e que vão exatamente de encontro ao pensamento cristão, não se trata simplesmente de puro anti-cristianismo, como pensam alguns. Trata-se de uma resposta, em mesma intensidade, aos discursos vigentes naquele momento. Se hoje muitos são levados a entender as palavras da BS como uma rebeldia adolescente, eu lhes digo, trata-se de uma resistência, uma oposição, cuja intensidade se fazia necessária por conta do momento no qual ela se realizava. Além do mais, ainda que LaVey partisse de pensamentos filosóficos anteriores a ele, coisas como a exaltação do ego, a liberdade moral do indivíduo, ou o próprio ateísmo em si, não eram a moda da época, mas sim seus opostos.

Retomando a simplória metáfora, LaVey quis com sua BS dar fortes marteladas na casca religiosa moral que havia nas pessoas. Mas, ao contrário de uma pura e simples contestação, tem-se uma proposta de pensar e agir. Foi preciso retirar da sala os velhos móveis para que pudesse haver espaço para uma nova mobília; se me permitem mais uma singela analogia.

Mas, como todos sabem, o tempo passou. Ainda que hoje muitos vejam no Satanismo algo de "novo", não podemos simplesmente fechar os nossos olhos para o nosso tempo e deixar de pensar as questões do hoje, que, naturalmente, não estavam presentes no ontem de LaVey. Mais do que associar à prática o incentivo quase que dogmático do movimento/evolução do indivíduo, é preciso também trazer para o nosso tempo, em uma nova forma, as idéias do passado.

É justamente para dar "nova cara" aos conceitos Satanistas e levantar as questões de nosso tempo, que se faz necessária uma releitura de LaVey. Compreendemos hoje que a BS é o ponto de partida, e não a meta final. Ela se encontra, tal como nós quando a ela temos nosso primeiro acesso, em um estado bruto. Algo como o "primeiro estágio" de um Satanista, que é justamente a crítica, a "revolta", a inconformidade. Estas são as sensações que justamente vão dar início a uma jornada com novos olhos voltados para a vida, para o eu, para o ser.

E se o nosso eu vai adiante assim que vamos dando os passos, por qual motivo não haveríamos de tornar públicos com palavras e imagens nossos pensamentos? Ou deveríamos nos contentar em permanecermos com uma produção nomeadamente Satanista estagnada? De forma alguma. É justamente por este princípio de ação, de mudança, de fluxo constante, que hoje estou eu aqui com o Recanto, os colegas da terrinha com a A.P.S., e até mesmo Gilmore e companhia mais ao norte.

É preciso não desperdiçar nossas capacidades e possibilidades nos limitando ao que nos é dado, àquilo que se encontra em nossa frente. É preciso querer mais. Não devemos nos assustar com os gritos de indignação na BS, nem muito menos nos tornar vítimas de um impulso contestador que no final só nos leva ao inverso daquilo em que nos encontramos anteriormente, como ocorre com muitos. Vejamos sim toda a graça e força daquilo que já foi dito, mas saibamos também nós mesmos produzir as nossas próprias.

Eis o Satanismo.

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