Tem gente que não gosta de mim. Tem gente que não me conhece e desde já também não gosta de mim. Tem pessoas que basta que eu abra a boca para virem com um "nossa, você gosta de falar mal de tudo, e acaba por limitar sua visão". E são plenamente naturais essas reações, acho até divertido. Definitivamente ninguém gosta de ver seu peixe sendo devorado por tubarões, nem a etiqueta de sua roupa descolada revelar a promoção de 9,99. Não gostamos de crítica. Não adianta, ninguém gosta. Só mesmo a experiência e o conhecimento trazem a verdadeira postura de aceitação plena de uma crítica. O orgulho é tão vivo quanto nossa perigosa auto-elevação pessoal. Ou seria auto-ilusão? Enfim, o que acontece é que, por mais abertos a comentários alheios que sejamos, acabamos por não percebermos que todo mundo que falar bem de si e mal daquilo que é diferente. Em linhas extremamente gerais é isto.
E não é difícil entender que é mais ou menos assim que funciona. E este é um problema, que não adianta, só o tempo resolve. Isto se resolver.
Cada pessoa ao longo de sua vivência acaba acumulando infinitas visões subjetivas a respeito de todas as informações e experiências adquiridas. É pensamento, memória, e o sujeito enquanto filtro da realidade. Sem querer entrar em questionamentos filosóficos mais específicos, cada indivíduo é o parâmetro de si próprio, e não podemos dissociá-lo de seu pensamento. E dentro do pensamento há gostos, interesses, maneiras de ação, visões, perspectivas, enfim, infinitos são os parâmetros que cada um possui para compreender e pensar a realidade e assim constitui-se como um. Mas ora, se eu sou um, o outro também o é. Simples? Nem tanto.
Cada um é o centro de sua realidade. E cada um julga-a a partir de si mesmo. Isto é inevitável. É inconcebível imaginar um sujeito separado do objeto, como se houvesse uma possibilidade de pensamento metafísico no qual não houvesse qualquer parcialidade em uma opinião. Naturalmente não se trata de um nível superficial de parcialidade, como em um texto de jornal. Trata-se de algo um pouco mais profundo, diz respeito à forma como cada um enxerga o mundo. E não podemos ir contra, todos julgam. Toda a informação e idéia quando compreendida de fato desperta ou interesse ou desinteresse, ou afeição ou repulsa, ou amor ou ódio. Nada permanece em cima do muro, a não ser aquilo que desconhecemos.
Isto significa dizer simplesmente uma coisa: todos somos preconceituosos, todos temos nossa própria opinião, e todos nós julgamos tudo e todos que se colocam à nossa frente e através de nossos sentidos percebemos. Há aqueles que moderam suas palavras em hipocrisia desprezível. Há aqueles que vestem o véu do bom crítico julgando para si uma postura tão superior de pensamento que são incapazes de enxergarem a um palmo do nariz. E há aqueles que simplesmente aceitam o asco e o nojo que sentem diante de certas coisas e não medem palavras para expor seus julgamentos.
Este último é um grupo de risco. Precisam controlar seus impulsos e palavras para não saírem como os revoltadinhos, cuja própria fúria é o que justamente compromete toda a validade de seu discurso. E nestes casos, os que não conseguem lidar bem com as palavras, restando apenas como expressão um ímpeto adolescente, acabam por expor as mazelas de suas críticas, que, na verdade, não ultrapassam o nível da superficialidade. Por outro lado, aqueles que são capazes de defender com vigor e justificar cada uma de suas maledicências são os verdadeiros detentores da liberdade de pensamento. E não raro, aquele que embarca em um navio de guerra para proteger suas idéias, acaba por alcançar destinos nunca antes previstos.
E eis o verdadeiro caminho: dê asas a seu espírito crítico. Deixe crescer a flor negra cheia de espinhos dentro de seu coraçãozinho. A verdadeira manifestação de Satan enquanto opositor não é aquela que o atira contra algo, mas sim aquela que o faz perceber as pedras no caminho para delas desviar, ou quem sabe, recolhê-las. Nenhuma postura é firme por si só a ponto de se manter segura em inércia.
Tudo isto é para que nos lembremos que não somos nós simplesmente aqueles que julgam. Também seremos julgados, também seremos vítimas de preconceitos, e também seremos, por que não, vítimas do escárnio alheio. E não adianta bater pezinho, cada um de nós faz exatamente o mesmo. O que fazer então? Não vençamos no grito, mas com o diálogo interno, com a reflexão individual. Saibamos ouvir de quais idéias partem os gritos, ao invés de simplesmente com elas ferirmos nossos ouvidos. É muito fácil nos sentirmos agredidos e, nos colocando como vítimas, acabemos por menosprezar os agressores. Quando na verdade não há agressão maior do que, simplesmente, nunca ser agredido. Prego que se destaca acaba sendo martelado. E o verdadeiro brilho de uma estrela a ninguém é indiferente; cause admiração, ou um tapar de olhos.
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28 de novembro de 2009 às 04:17
Gosto muito dos textos deixados neste site, vc está de parabens.
Mas eu gostaria de fazer um pedido, gostaria que vc deixa-se no texto uma opção para imprimir direto do mesmo. Seu que o mesmo texto esta no 4shared, mas facilitaria muito.
Obrigado e parabéns novamente.
20 de abril de 2010 às 14:13
Infelizmente até hoje não encontrei um gadget que funcionasse de uma forma minimamente agradável e imprimisse somente o conteúdo do post. Dos que tentei implantar no blog, todos acabaram por imprimir a página toda, o que só ia fazer desperdiçar tinta; valendo mais a pena copiar e colar o texto todo no Word e mandar imprimir de lá... =/