O Satanismo é uma religião. Ponto. Trata-se de uma afirmação. É desta premissa que parto, não venho aqui por agora para lhes despertar reflexão sobre isto. Quem ainda tiver dúvidas com relação a isto, basta ler o que já escrevi.

Entretanto, se por um lado cá estou eu, como sempre, nesta constante reafirmação do caráter religioso daquilo que se entende por Satanismo, muitos, muitos mesmo, estão aí gritando a sete ventos: diga não à religião, religião é isto, religião é aquilo, blá blá blá.

Vamos voltar um pouco na história...

A tomar por foco o pensamento ocidental (do lado de lá confesso não saber grandes coisas), podemos dizer, sem grandes problemas, que até determinado momento da história da humanidade foi todo o conhecimento "filtrado" pelas instituições religiosas, especificamente, a Igreja Católica. Detentora de prestígio social e poderio político, acabou também por exercer sua hegemonia no campo do saber, assim como no cultural, no das artes, etc. Como se sabe, assim como no Brasil hoje em dia, antigamente muita gente não sabia ler nem escrever. Ok, muito mais gente. O que importa é que todo o acesso ao conhecimento era extremamente restrito, bem como a interpretação destes.

Mas claro, o tempo passa e as coisas mudam. Reforma Protestante, declínio do poderio da Igreja, invenção da impressa, que fez com que circulassem com uma facilidade enorme em comparação a tempos anteriores textos, idéias; enfim, a casca começou a se quebrar. Sem querer entrar em grandes especificações históricas, estamos num blog afinal, o que podemos dizer é que chegamos em um ponto tal onde o homem quis não mais atingir o conhecimento e determinar sua compreensão de mundo a partir de uma visão religiosa. A explicação que se pautava pela crença e pelos dogmas religiosos é deixada de lado para que a razão fosse a grande medida. O homem passa a ser o centro de seu mundo, o responsável por suas ações, o detentor do pensar que o guia, aquele que busca a verdade por si próprio. Pois é, humanismo não começa em LaVey, ainda que ele o reafirme.

Lá pelo século XIII até o XVII, tivemos então humanismo, iluminismo e renascimento. Ou seja, a religião começa aí a ser deixada de lado. Têm-se a ciência e a razão então como os grandes guias do pensamento. E isto até os dias de hoje.

Entretanto, como papai do céu é um belo de um sádico, tanto progresso e desenvolvimento trouxeram problemas. E muitos. Desigualdade social, problemas econômicos, guerras, conflitos políticos, um tempo cada vez mais líquido, enfim, todo este papo dá teses e mais teses de doutorado. Mas o que podemos dizer, sem pecar por síntese, é que a religião por mais que tivesse começado a ser abalada lá pelos séculos XIII, XIV, e por aí vai, acabou se tornando uma poderosa alternativa para um indivíduo que vê no progresso não mais somente a esperança de um mundo melhor, mas que passa a olhar para seu redor e não vê lá grandes belezas. A crença exerce então um poder que ciência nenhuma poderá exercer. A partir do desconhecido que não se vê, explica-se então tudo o que pode ser visto. Ao contrário da ciência, que no visto nunca poderá explicar o desconhecido. Ter fé é mais cômodo.

É muito mais agradável responder perguntas que deixá-las sem resposta. A ciência em sua lógica-matemática-física-concreta-palpável-analisável não satisfaz certos porquês. Já a religião faz todo o sentido. O cristianismo por si é um complexo sistema hermeticamente fechado onde tudo funciona. Tendo fé, tudo simplesmente faz um sentido perfeito. O que é digno de louvor, sem qualquer ironia. Tudo se explica. Há sempre uma resposta na Bíblia para todo e qualquer questionamento, nem que seja para no final cair no bom e velho "é preciso ter fé" ou "existem coisas que a mente humana não pode compreender". Curioso como muitos abominam estes "argumentos", quando na verdade todo e qualquer pensamento humano em algum nível depende de alguma crença, bem como delimita para limites intransponíveis, havendo sempre assim, algo que "não se pode compreender".

Entretanto, nem tudo são flores. O pensamento científico é simplesmente incompatível em muitos aspectos com o religioso, e nesta luta, alguém tem que levar a melhor. E hoje em dia, estejamos talvez na fase final da batalha. Ou não. Bem, o que ocorre é que o movimento ateísta veio para acabar de vez com a religião. Ou ao menos tentar. E antes que venham com "oh, mas não somos intolerantes" e todo aquele blá blá blá de ateu, o que acontece é que a religião está sendo interpretada das piores formas possíveis. Com os velhos clichês da moda, tais quais "religião é fantasiosa", "religião faz as pessoas não terem senso crítico", "por religião o homem derrama rios de sangue", "um dos maiores problemas do mundo são as guerras motivadas pela religião", tornou-se esta sinônimo de crença cega, ignorância e sistema de moralidade duvidosa, dentre outros.

Tal como já disseram certa vez, toda ação causa uma reação. Não somente os problemas de nosso mundo nos levam a buscar alternativas esotéricas, místicas, ou quaisquer outras que requeiram fé naquilo que não vemos para que possamos, ainda que por alguns momentos, esquecer o que vemos; como também este boom de ateísmo promove uma reafirmação do caráter religioso. É uma resposta natural; num debate, cada um quer vender seu peixe. O cético grita que Deus não existe e o crente que só existe por causa de Deus.

Mas o que tudo isto tem a ver com Satanismo?

A resposta para esta pergunta acompanhe na parte II do texto.

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