Recomendação do Recanto




"Não subestime o desprezo absoluto das pessoas. Tornar-se um pária não é fácil. As pessoas acreditam que o diabo é Satan. Ignoram que o mundo é muito mais antigo que o cristianismo. Tudo para essas pessoas ignorantes é coisa do “diabo”. E julgam, recriminam e segregam. Ainda que isso seja um pecado diante de Deus. Porém, estranhamente é exatamente esse comportamento hipócrita e preconceituoso que a Igreja incentiva. É tudo tão absurdo. E afinal o que são os pecados? É uma maneira de controle do ser humano, de condená-lo, de inserir culpa pelos seus desejos naturais, de submetê-lo, de castrar seus pensamentos. É tudo tão ridículo."

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O mito do "eu sei" - Parte II

Escrito por Recanto do Opositor

Continuação da Parte I...

E quem não tenta se afastar desta tendência não faz idéia de como isto é tão comum. Eu lhes dou um exemplo... Imaginem qualquer discussão de buteco, fórum, orkut, enfim... Num tema X, eis que alguém toma a palavra e diz (ou posta):

"Eu acho que as manifestações artísticas são um reflexo dos valores morais da cultura de nossa sociedade. "

Eu, como bom preconceituoso e metido a besta que sou, já pararia de ler no "eu acho". De "euachos" já vi as coisas mais imbecis. E com certeza não seria diferente agora... Mas vamos lá... Voltemos à frase. Repare que nesta simples sentença, uma frase pequena e aparentemente cheia de certeza, estamos a lidar com conceitos e idéias absurdamente vastos e complexos: arte, valor, moral, cultura e sociedade. O que é arte? O que é valor? O que é moral? O que é cultura? O que é sociedade? Há centenas de livros escritos tratando das mais diversas questões, características, pontos principais, etc. destes conceitos e idéias. Não somente tratando disto, como a própria definição destes! Se alguém quiser falar sobre X é preciso definir o que é X. E ora, se nem mesmo os grandes autores de sociologia chegam a uma definição última de cultura, por exemplo, como posso eu, que não sou um destes, que não tive a carga de leituras e estudo deste, posso me julgar capaz de chegar até ela?

Reparemos que o processo que deve ser feito não é o de partir de nossas idéias e montá-las a partir de conceitos e pontos que achamos que dominamos para satisfazer a lógica interna de nosso argumento e a ele dar algum tipo de respaldo. É justamente o contrário. É preciso esmiuçar, antes de tudo, qualquer conceito mais amplo que iremos utilizar, e tentar definir exatamente nosso campo de idéias.

Mas ora, perguntam-me então, se eu fosse fazer o exercício do "mas o que é X" para cada elemento de uma idéia minha, eu nunca conseguiria chegar a lugar nenhum. E aí, entra aquela nossa velha frase, que até já cheguei a citar aqui uma vez: tudo que sei é que nada sei. Sócrates, até onde se sabe, autor da máxima, faz com que tenhamos a origem desta a muito tempo atrás, antes mesmo de Cristo... Se naquela época pode ele pensar isto, tomemos então o mundo em frenesi informacional que temos hoje! Só faz mais sentido.

Para "chegarmos a algum lugar" é preciso muito. Mas muito mesmo. E mais do que isto, é preciso muita força, para muito pouco se deslocar. Não precisa ir muito longe. A despeito dos críticos de plantão do apelo à autoridade, que só o fazem para tentarem se igualar, sem qualquer esforço, a quem se encontra acima deles, basta pensarmos em termos de ensino institucionalizado. Desconsiderando todo e qualquer fator individual mais específico, eu, por exemplo, que faço uma graduação em Física, não tenho os mesmos conhecimentos de quem faz Antropologia. É óbvio que isto não impede de alguém que faz física conhecer algo de antropologia, ou o contrário. É óbvio. Mas isto não anula que um possui a priori uma carga de aulas, leituras, reflexões e debates dentro de um determinado campo do conhecimento que o outro não tem! Isto é tão simples quanto dizer que, se eu leio um livro e você não, eu sei mais sobre ele do que você!

É tudo uma questão do tempo desprendido em função de algo. Se eu tenho 20 anos de estudo e opto por dividi-lo em 10 anos para biologia e os outros 10 para psicologia, eu não vou "saber mais" sobre antropologia do que quem dedicou a ela os mesmos 20 anos! É também ÓBVIO que não se trata de medir quem sabe mais ou menos, não se trata de testes de QI ou aplicar provas nas pessoas sobre determinados assuntos, a questão NÃO é essa. Conhecimento não se mede, não se quantifica.

O grande ponto reside numa simples questão. Pergunte-se a si mesmo: quem sou eu para falar isto ou sobre isto.

Não adianta, ainda no mesmo exemplo, não dá pra conversar sobre um livro com uma pessoa que não leu o livro...! Não dá! E ora, se você disser "você não leu o livro, se eu falar sobre ele, você não vai entender" não se trata de arrogância! E quem o pensa sob o argumento de "oh, você está se colocando acima de mim" está errado! É justamente ele que está "abaixo" por não compartilhar a mesma carga de saber, o mesmo livro!

Parece algo simples, mas estamos diante da mais comum forma de pensar. E é justamente neste mito do "eu sei" que não deve o Satanista crer. Mais do que colocar-se como centro do mundo e de sua própria vida, é preciso reconhecer a nossa pequenez diante destes, e que, o pensamento, o conhecimento e as reflexões que se fazem acerca de nossa existência, são dotadas de uma complexidade e vastidão infinitas, que não podem ser reduzidas por apenas um cérebro e apenas uma vida. Crer que pode fazê-lo é incorrer em pecado de auto-ilusão.

Não se trata de querer eu com estas palavras justificar uma arrogância intelectual baseada em títulos, diplomas ou coisas do tipo. Não é isto. Trata-se apenas de tentar freiar uma tendência natural que o mundo nos força a ter: a tendência à mediocridade, à superficialidade, ao rápido, ao resumido, ao digerido. Deixe de lado a preguiça de ler por horas, de refletir sobre o lido, de reler, de ouvir outros pontos de vista. Canse-se, aproveite seu tempo. Seja mais. Queira mais. Inércia e mediocridade não são Satanismo.

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