Nada chama mais atenção no teatrinho "Satanista" que seus "rituais". Para um leigo, pensar em Satanismo é diretamente pensar nos pentagramas desenhados no chão, nas virgens mortas, nos bebês afogados, nos cultos a
deuses negros (rsrs), enfim. Toda aquela palhaçada cinematográfica...
Mas bem, Satanismo é uma religião, e não poderia deixar de ter seus ritos e práticas próprias. Antes de falar um pouco sobre o que de fato viria a ser o ritual Satanista, é preciso desfazer a idéia do "ritual", típica do senso comum, ou do pensamento leigo no que diz respeito às religiões.
Um ritual, ou um rito, dentro de uma perspectiva religiosa constitui uma prática, por vezes com periodicidade determinada, que possui algum tipo de simbolismo forte para a religião, que indica determinado preceito ou crença, que possui algum tipo de valor dentro do sistema religioso no que diz respeito a seus conceitos e idéias. São ações determinadas, cuja forma e princípios dos quais partem são prescritas por estes conceitos.
O que isto tudo quer dizer? Simples, quer dizer que todas as religiões possuem seus rituais e isto não é uma especificidade do Satanismo. Digo isto, pois é como falei ao início do post, o termo "ritual satanista" parece ter um peso maior, do que por exemplo, "ritual cristão". Mas ok, se isto é tão normal assim nas religiões, como então é o ritual Satanista?
De início, é preciso compreender o
porquê, não o
como. O ritual cerimonial Satanista tem como intuito, em primeiro lugar, livrar o indivíduo de possíveis sentimentos, aflições, mágoas, fardos, enfim, qualquer sensação que promova certo excesso doloroso. É através do ritual cerimonial, num contato consigo próprio que o indivíduo, através de pensamentos, sensações, interações com objetos, ou com o meio onde se encontra, ou ainda com outros elementos, mentalmente "expele" aquilo que o consome. É um tanto quanto complicado descrever tal processo, pois não há palavras que definem o que constitui o pensamento de um praticante de ritual no momento em que este se dá. É um diálogo consigo mesmo. Um diálogo com os múltiplos eus do Satanista, uma doce conversa com as mais diversas faces de nossa consciência. É um trabalho feito com o pensamento e com os sentidos.
Além desse "colocar para fora", entra em jogo também a crença na magia. Para o Satanista, a magia define-se como a mudança de eventos que ocorre de acordo com vontades individuais. E como se dá isto? Simples, tudo aquilo que é "posto para fora" funciona como uma energia que influencia nosso meio a ponto de provocar a tal mudança. Obviamente, isto é uma
crença e coloca-se em segundo plano no ritual, uma vez que, é muito mais palpável um alívio de fardo que uma "mudança no rumo natural das coisas". Convém dizer também que esta é uma crença que fica submetida à escolha do indivíduo, cabe a ele aceitá-la ou não. É uma questão pessoal de definir até onde vai o ceticismo...
Já que falei sobre o porquê, vale falar também um pouco sobre o como. Neste ponto, dois caminhos se abrem. Seguir rituais propostos, ou o próprio indivíduo produzir o seu. LaVey trata na Bíblia Satânica de propor alguns elementos, objetos e palavras que ajudem o indivíduo a praticar sua crença e produzir seu ritual. Tudo isto é passível de escolha. Um Satanista pode perfeitamente contentar-se com uma oração de versos próprios, com uma meditação ao ar livre, enfim. Cada um trabalha com a magia da forma que bem entender, valendo-se de recursos mais estéticos e materiais ou não.
Ou seja, o ritual satanista é algo mais normal do que se pensa. Considero como uma válvula de escape, sadia e necessária para todo e qualquer tipo de problema que o indivíduo venha a adquirir em sua jornada de vida. Não é uma crença cega em entidades exteriores na qual nos colocamos como simples recitadores de cânticos preguiçosos onde nos ajoelhamos e esperamos atuação divina. É trabalhar a própria mente, renová-la, mantê-la num estado satisfatório para que encaremos nossos infortúnios de forma mais centrada, mais calma, mais produtiva.
OBS: A noção de magia Satanista é conceituada em duas categorias, a cerimonial e a manipulativa. Foi sobre a primeira que tratei de falar neste post, sendo a segunda, de forma bem resumida, a magia na qual agimos de forma prática nas situações, ao invés de recorrermos a nós mesmos. Diz respeito a um fazer mais concreto, mais diretamente inserido em situações exteriores. Para informações mais precisas, recomendo o meu "
Magia e Ritual Satanista", bem como, claro, a Bíblia Satânica.
16 de dezembro de 2008 às 23:46
Sim,concordo,a magia vem de dentro de você e atua básicamente como você quiser.Tanto nos seus efeitos como na forma de liberá-los.E como já se sabe e é de se esperar,sempre haverão opositores/leigos/escrotos que não entenderão nem terão esse desejo.
Não sei se a liberdade de expressão realmente é benigna,já que tantas formas de falar besteira tão por aí...e o pior é que essas besteiras entram nas cabeças vazias das pessoas...
19 de dezembro de 2008 às 09:59
Concordo plenamente com você (no que diz respeito aos conceitos de magia), mas uma dúvida. Usando-se objetos, por mais que cada satanista possa escolher o que preferir, quais são os "favoritos"?
19 de dezembro de 2008 às 11:17
Isto eu não tenho como saber... O máximo que posso dizer são os da "moda", propostos por LaVey, como o símbolo do Baphomet, Pentagramas, Velas, vestimentas negras... Mas como disse, isso fica à escolha de cada um, eu particularmente não me valho de nenhum destes elementos.
17 de novembro de 2009 às 11:36
A magia parte do sabio e sabedoria do sabio tudo parte de nós mesmo nos eramos e nos pagamos,bom seja terrivel para seus inimigos mas nao seja o mau para voce mesmo.
19 de abril de 2010 às 22:33
Rituais satânicos é escravidão, sou totalmente contra qualquer tipo de Ritos e ensaios com relação a satanismo, já seria o momento da personalidade satânica superar qualquer tipo de Rituais, me lembrou LaVey no You Tube fazendo um ritual com roupa de rabo e chifrinho, ridículo.
12 de agosto de 2014 às 00:03
Vitor, bom estar vendo seu Blog novamente, há muitos anos não via um texto seu.
Acredito que esta tal de "mudança no rumo natural das coisas" seja caracterizada pela dinâmica do individuo e o meio, através da mudança de ótica do individuo (que é uma valorização satânica) podemos transformar nossas ações. Se entendermos "natural" como padrão ou cotidiano, na mudança da ótica mudaremos o natural.
12 de agosto de 2014 às 00:05
Para o Anonimo e os interessados, leiam uma abordagem psicológica chamada Psicodrama criada por Jacob Moreno.
14 de setembro de 2014 às 17:54
Foi o único que respondeu minha pergunta. Achava, como leigo, que para ser um satanista moderno era necessário seguir os rituais especificados por LaVey. Não simpatizo com eles, até porque acharia preferível fazer em um grupo e não conheço tais pessoas a minha volta.
O ceticismo ser um fator influenciador também foi um amplo esclarecimento em poucas palavras. Obrigado!