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"Não subestime o desprezo absoluto das pessoas. Tornar-se um pária não é fácil. As pessoas acreditam que o diabo é Satan. Ignoram que o mundo é muito mais antigo que o cristianismo. Tudo para essas pessoas ignorantes é coisa do “diabo”. E julgam, recriminam e segregam. Ainda que isso seja um pecado diante de Deus. Porém, estranhamente é exatamente esse comportamento hipócrita e preconceituoso que a Igreja incentiva. É tudo tão absurdo. E afinal o que são os pecados? É uma maneira de controle do ser humano, de condená-lo, de inserir culpa pelos seus desejos naturais, de submetê-lo, de castrar seus pensamentos. É tudo tão ridículo."

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Misantropia Satanista

Escrito por Recanto do Opositor

Devo confessar a vocês que nunca gostei desta palavra. Aliás, já defendi ferozmente que Satanismo e misantropia eram coisas não associáveis. Mas, é aquilo caros colegas, só o tempo nos mostra o quanto podemos mudar. Tenham medo do amanhã, muito medo. Não devemos deixar de construir nosso destino a cada segundo, mas nunca, absolutamente nunca, mantenha-se definitivamente convicto em nada. Nietzsche já nos dizia que "um homem convicto é um homem preso". E ele estava certo. Se o indivíduo não permite que o tempo, como um sopro em meio às areias, vá modificando lentamente todo o seu relevo, este é por sua vez, um corpo, muito inferior a um cadáver, pois ao menos ao cadáver resta a decomposição. Aos "convictos" e aos "homens da verdade", nem isto lhes sobra...

Tendo feita esta breve introdução com tom de conselho, que é tipicamente coisa de quem com certeza já sofreu as conseqüências de algo e sabe do que está falando, tratemos agora de pensar um pouco sobre este conceito de misantropia.

Atualmente, sem almejar querer desvendar as origens da palavra ou suas primeiras ocorrências, temos como misantropia o sentimento ou sensação que se caracteriza pela aversão ao ser humano. Mas ora, se a religião Satanista trata de justamente valorizá-lo, como poderia então tal conceito ser associado? Esta era a questão da qual partia meu argumento; tinha para mim que este e o Satanismo não poderiam caminhar juntos.

Entretanto, para compreender esta relação, a princípio infundada, é preciso reconhecer o indivíduo Satanista dentro de um grupo social do qual ele, inexoravelmente, faz parte. Pelo simples fato de ter optado por sua religião, já consegue ele compreender certas coisas fundamentais. A primeira, e que diz respeito justamente a um dos possíveis aspectos do arquétipo de Satan, é o fato de que ao reconhecer-se como um alguém com pensamento próprio, passa a então a questionar tudo aquilo que está a seu redor, e de que forma ocorrerá sua relação com os outros e os pensamentos vigentes. Este primeiro momento faz com o indivíduo se compreenda não simplesmente como um, mas como diferente dos demais.

Em seguida, reconhecendo-se como a "ovelha negra", o Satanista é encorajado a destacar-se cada vez mais. E isto não quer dizer ser meramente diferente, mas melhor. Não para provar nada às outras pessoas, de forma alguma, isto seria apenas egolatria vazia. O grande fundamento da evolução do Satanista é aperfeiçoar cada vez mais seu corpo e mente para alcançar as mais diversas formas de satisfação que a vida lhe pode oferecer. O que funciona como a ignição de um motor, e resulta numa constante busca por conhecimento. E isto digo de uma forma extremamente ampla. Pode ser intelectual, científico, com relação a outras pessoas, com relação a outras experiências de vida, enfim, a lista é infinita.

A partir destes dois pontos podemos fazer algumas conclusões. O indivíduo que se reconhece como Satanista, e parte do fundamento de buscar sempre uma melhoria com relação a suas habilidades e conhecimento, acaba, conscientemente, por se distanciar dos demais, que não são capazes de se reconhecerem como distintos uns dos outros, como, por conta disto, acabam por permanecerem em suas condições determinadas por elementos exteriores.

Para este demais, há muitos nomes. Massa, ovelhas, rebanho, plebe, enfim. Trata-se sim de uma diferenciação, não se pode negar. Não também seríamos "religiocêntricos" em afirmar que as nossas posturas são melhores que as dos outros. Mas, se partirmos da valorização do espírito crítico e da não aceitação de todo e qualquer valor predominantemente aceito, estamos a nos diferenciar. É muito importante compreender que o espírito crítico, obviamente, não se trata de uma invenção Satanista. Mas como religião convidamos e incentivamos cada um a pensar por si só, sem se deixar levar pelos pensamentos da maioria, que por muitas vezes, nada mais são senão um reflexo da dominação exercida por uma minoria. Longe de mim querer neste momento tecer comentários mais profundos com relação a isto. Mas parto do princípio que tanto a moralidade como boa parte das manifestações culturais que exercem influências mais visíveis no comportamento das pessoas são, em sua boa parte, constituídas exatamente a partir de um complexo e bem articulado sistema, cujo funcionamento de seus componentes é ditado por quem o controla.

Ou seja, como quadro final, temos: um indivíduo cujo espírito crítico apreciado pela religião o incentiva a movimentar-se para regiões cada vez mais distantes daquelas nas quais se localiza a maioria restante, e esta, por sua vez, fomenta através de e para si mesma sua estagnação, controlada por aqueles que exercem poder sobre ela.

Entretanto, por mais que use de uma semântica locativa espacial, não se encontra, ao final deste movimento descrito anteriormente, o indivíduo "concretamente" dissociado dos grupos sociais dos quais inexoravelmente, como já coloquei, faz parte.

Entra então a grande primeira crítica à misantropia em si, e para isto, voltemos a ela. De que forma tal sentimento de antipatia poderia modificar o comportamento de alguém para com os outros?

O questionamento é válido, mas é preciso pensar os diferentes níveis possíveis em que ele se manifesta. Um sentimento de aversão ao ser humano poderia, sem grandes esforços, privar o indivíduo de realizar suas interações para com os outros, de buscar algum incentivo em modificar-se e permanecer em constante esforço de mudança, de manter laços afetivos, enfim. Isto seria uma forma mais extrema de misantropia. Algo como a típica melancolia adolescente, muito comum hoje em dia, seguida de discursos como "oh, eu odeio esta vida injusta e sem graça" ou "eu sou apenas mais um verme nesta terra, estou fadado a morte e a aguardo sem grande pesar", dentre outros. De fato, esta é apenas uma postura adolescente, e, ao menos que aquele que a adota seja muito bem favorecido economicamente, em algum momento de sua vida terá de deixar toda esta imaturidade de lado e traçar seu futuro. Nem tristeza nem lágrimas pagam contas, muito menos servem de alimento para o corpo.

Mas há ainda um outro olhar a ser lançado, desta vez compreendendo a misantropia de uma forma menos teatral, e mais concreta. De tal forma, funcionaria ela não como uma simples aversão a todo e qualquer ser humano, mas sim em suas ocorrências mais comuns, mais prejudiciais, mais injustas, mais cruéis, mais estúpidas, dentre outros adjetivos depreciativos. Compreende-se então um desgosto por específicas posturas tipicamente humanas. Trata-se de lançar os olhos a seus dejetos, e assim, como as narinas que se incomodam com o odor desagradável, também sentir asco por tal visão. Tem-se por fim nada mais senão um conceito específico à reação do indivíduo perante aqueles que o cercam.

Com base no exposto até então, chegamos ao seguinte panorama: o indivíduo, à medida em que se reconhece como um é encorajado pelo Satanismo a desenvolver seu espírito crítico, para então aperfeiçoar corpo e pensamento, tendo por fim alcançar suas satisfações em vida; enquanto isto, neste processo distancia-se ele da maioria estagnada que o cerca, mas não de forma concreta, visto que as relações com esta permanecem, ainda que se modifiquem; por fim, caracteriza-se então a misantropia como a reação deste indivíduo em meio à maioria com relação a esta, expressa como aversão e antipatia. O que nos permite dizer que a própria postura Satanista por si pode promover a misantropia, sem claro, elevá-la aos excessos já comentados.

Mais do que termos compreendido esta relação íntima de causa e efeito, também se faz necessário pensar não mais em um comportamento como conseqüência, mas como ato planejado. O quero dizer com isto é que, se já se pode compreender que a misantropia ocorre em função de uma reação natural causada por elementos do pensamento Satanista, podemos ir mais além e tentar esboçar alguns padrões de comportamento que têm por base esta reação. Ou seja, pensar de que forma uma postura intencionalmente misantrópica poderia ser válida e útil ao Satanista.

Não é preciso muito a fundo. Grande parte do que já "ouvimos de Satan" nos apontam para este tipo de postura. De uma forma geral, se ao início do texto pensamos em um distanciamento mais idealizado, convém agora pensarmos na praxis. Diz respeito a simplesmente evitar aquilo que se encontra em níveis tão distintos dos nossos. Eis o grande princípio.

Com base em experiências próprias, e recomenda-se que o leitor também as tenha, pude compreender que por mais altruístas que fossem minhas intenções, grande parte daqueles com quem me propus a dialogar não estavam em altura suficiente de reflexão para poder compreender minhas idéias. Não raro temos a inocência de crermos que o próximo é tão capaz quanto nós, e que pode se desenvolver em mesma velocidade que a nossa. Trata-se exatamente disto, inocência. Ou quem sabe algum resquício de esperança no humano. Seja o que for, lhes digo, atentem para suas vozes quando decidirem falar. Muitos não estarão aptos para ouvi-los. Em absoluto.

Ou ainda que o façam, lembrem-se, o ser humano é egoísta por natureza, e em tempos como os nossos, por diversas vezes, nada fala mais alto senão seu ego. Mas não da forma satisfatória e produtiva, como se tem perante o Satanismo. Estou a falar da mais pura egolatria vazia. Muitos dos que apontam seus dedos a nós e nos acusam de auto-deificação, como se fosse algo absurdo ou incabível, são os primeiros a colocarem suas pessoas em pedestais, mantendo-se na mais absoluta incapacidade de olharem para si mesmo, nem que seja com o menor dos cuidados, para não incorrerem em uma auto-ilusão. Satanistas, de certo, não o fariam.

Não se recomenda aqui qualquer tipo de proselitismo, arrogância, nem nada do tipo. Do contrário. Seja socialmente agradável, e tenha por dádiva a capacidade de calar-se. O som de nossas vozes despertam os mais incontroláveis anseios de contestação, e muitas delas não se sustentam nem mesmo ao ponto de provocarem em nós uma dúvida. Atentemos-nos para olhos e ouvidos, as grandes portas de entrada para o pensamento.

Por fim, uma postura misantrópica considerada válida será por sua vez aquela que mais lhe auxiliar a manter-se alheio a toda a escória humana. Por mais dura que seja a nossa realidade, e isto, querendo ou não, acabe por nos afetar, devemos reconhecer nossas limitações e compreender que muitos simplesmente não foram formados de maneira adequada a ponto de lhes ser proporcionada capacidade de pensamento, de reflexão, de contestação. Se já dividimos nosso território com tais, que não tratemos de tentar fazê-los caminhar pelas próprias pernas, quando estas já foram a tempos amputadas. É isto que a misantropia nos tem a propor. Discorda? Fique à vontade. Pernas amputadas ou não, são as suas pernas.

5 Comments

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    Comment by Madame Morte

    É um tanto quanto reconfortante sentir-se alheio à todo o tipo de desconforto vindo da conduta ou de costumes dos outros, o gosto azedo dos atos e fatos se torna mais suave.

    Mas o outro lado da moeda, é algo como um instinto de sobrevivência em grupo, algo que faz sentir-se incompleto sozinho, e isso dói de verdade.Não faz tanta diferença procurar elevar-se ao máximo quando sabe-se que no céu não tem nada além de solidão.

    Talvez sejam só impulsos elétricos e hormônios, mas um ser humano precisa de outro.Se for de outra forma, talvez não faça tanto sentido falar, pensar ou escrever; absorver e dividir conhecimento é básicamente a comunhão do amor ao próximo, do ponto onde se contribui e se ganha, relação perfeita.Ou não.

    De qualquer forma,construtiva ou não, solidão destrói.

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    Comment by Anônimo

    Madame morte não entendeu. Realmente algumas pessoas não são capazes de trabalhaar suas mentes na mesma frequência satânica. Provavelmente ela não é satânica, mas é válido.
    Cara, seu discurso faz sentido, mas se tratando apenas de idéias individuais. Não creio que seria possível nos "afastarmos fisicamente das pessoas, é aquela coisa, você sabe demais, compreende o mundo à sua volta, mas não adianta tentar mostrá-lo a alguém sem olhos.
    É isso aí meu velho, as mentes mudam tudo muda, foi o que você me disse uma vez, e me disse também que a discrição é a melhor arma de satan. Acho que aquela entrevista realmente afetou você.
    Quantyo à forma do texto em sí, nçao sei porquÊ você insiste em instigar os leitores a um assunto que acaba por estancar logo a seguir... Mas não esquenta, isso é apenas uma opinião satanista.

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    Comment by Recanto do Opositor

    Bem, o problema nem foi tanto a entrevista, foi um outro tópico, uma outra discussão, na qual eu pude compreender o quanto temos a perder por simplesmente tentar elucidar as pessoas das mínimas coisas. Definitivamente há pessoas com o caminho já traçado e que, são incapazes de olhares outras placas ao longo da estrada.

    E com relação ao que o Lucas disse, é o outro lado da Misantropia. Reconheço que não me debrucei sobre ele, e bem, tem como conseqüência solidão, isolamento, e isto pode não ser nem um pouco agradável, mas parti do pressuposto que Satanistas mais esclarecidos não incorreriam neste erro. Mas é de fato um comentário válido. Extremamente.

    E com relação a instigar leitores, não é bem por aí.. É que simplesmente, eu tenho de pincelar alguns assuntos, e o que ocorre é que, se eu começasse a me aprofundar nele, teria de duplicar o tamanho do texto para poder fazê-lo. E como autor, tenho o cuidado de não deixar certos pontos "fechados", no sentido de passar ao leitor que compreende-se a profundidade de certos pontos, e que não se chegará a estas no texto em questão, cabendo a ele, se desejar, buscar outras fontes.

    Sem mais, grato pelos comentários.
    Vítor Vieira

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    Comment by Anônimo

    Ahhh... entendi. E era isso que eu tinha em mente, "Satanistas mais esclarecidos não incorreriam neste erro". Sem ressentimentos.

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    Comment by Outubro

    Finalmente consigo escrever umas linhas.
    Concordo cem por cento com a análise que faz talvez porque passei pelo mesmíssimo processo de aceitação crítica do conceito de Misantropia, que a princípio parecia destoar um pouco da minha natureza comunicativa mas que a pouco e pouco fui aferindo e entendendo, não como uma rejeição do ser humano em geral, ou como forma de isolamento pedante, mas simplesmente como a rejeição de pessoas, meios, discursos e funcionamentos avessos à minha forma de estar, fosse pelo facto de os encarar como obstáculos mais ou menos sérios ao meu bem-estar e ao meu progresso, fosse pura e simplesmente por os considerar social, estética ou ideologicamente inúteis e, por conseguinte, desinteressantes.

    Esse distanciamento infere também uma aproximação mais exacta e selectiva, mas muito mais produtiva em termos pessoais, dos meios e das pessoas que mais se ajustam à nossa realidade.

    No fundo acho que a Misantropia está intimamente ligada à selectividade própria de qualquer ser que ao evoluir se torna também mais exigente.

    outubro