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"Não subestime o desprezo absoluto das pessoas. Tornar-se um pária não é fácil. As pessoas acreditam que o diabo é Satan. Ignoram que o mundo é muito mais antigo que o cristianismo. Tudo para essas pessoas ignorantes é coisa do “diabo”. E julgam, recriminam e segregam. Ainda que isso seja um pecado diante de Deus. Porém, estranhamente é exatamente esse comportamento hipócrita e preconceituoso que a Igreja incentiva. É tudo tão absurdo. E afinal o que são os pecados? É uma maneira de controle do ser humano, de condená-lo, de inserir culpa pelos seus desejos naturais, de submetê-lo, de castrar seus pensamentos. É tudo tão ridículo."

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Vingança Satanista - Parte 1: do perdão

Escrito por Recanto do Opositor

Eis agora um tema que a muito pretendia tratar e que cuja composição das palavras talvez fosse requerer uma formalidade mais específica. Por se tratar de um conceito chave dentro do Satanismo, discorrer sobre ele não seria algo tão simples. Entretanto, trago-lhes a reflexão pelo próprio blog, e espero que não se cansem se as linhas excederem certos limites... Para tentar aliviar a leitura, dividirei o texto em duas partes.

Como se sabe, LaVey não economiza letras para enaltecer a "vingança". Tal exaltação justifica-se, como já comentei, por conta de todo um pensamento muito mais crítico e ácido que sua época pedia, diferentemente de hoje, quando já podemos desde cedo e sem grandes esforços nos livrar de certas amarras morais criadas pela religião cristã. Bem como não podemos deixar de lado o caráter opositor da Bíblia Satânica que por sua vez, no que diz a este respeito, coloca-se contra a postura do perdão injusto, no qual a vítima ignora aquilo que sofreu sem que qualquer equiparação seja feita.

A primeira justificativa para a vingança parte do pressuposto que o perdão é ineficaz e o agredido só demonstra ao agressor que este poderá agir da forma que fizera tantas vezes quiser sem que haja qualquer retaliação. Por mais belas que sejam as Escrituras Sagradas, na vida real quando sofremos algum golpe intencional de alguém, é difícil ignorarmos.

É até possível que vejamos vítimas perdoando aqueles que lhe causaram algum mal. Mas quando se trata de algo realmente doloroso, como por exemplo o assassinato de um ente querido, as coisas já não são tão "perdoáveis" assim. Ou talvez até seja, e o façam quando talvez o assassino já esteja preso. Mas é realmente muito difícil, ao menos para mim, conceber uma situação na qual um indivíduo chegue ao ponto de recusar até mesmo a atuação do Estado. Pelo contrário, ainda que vejamos discursos cheios de religiosidade, as velhas palavras "quero justiça!" sempre permanecem.

E é justamente por conta deste tipo de situação, tão comum, que podemos compreender que é extremamente difícil simplesmente aceitar um determinado dano sofrido, sem que nada seja feito. Pode-se até pensar em exemplos nos quais a vítima, ou seus parentes compreendem que aquele que lhes trouxe o mal é um infeliz, um coitado, um alguém sem valor, e talvez por isto o perdoem. Diversas justificativas há: estava possuído, era fruto de uma sociedade injusta, patologias mentais, etc. No geral, ainda que se esqueça do indivíduo, a ferida não se fecha. O perdão funciona então apenas como uma reafirmação de valores e condutas no sentido de "estou fazendo o que meu código moral incentiva". Não que se resuma a isto, mas basicamente, trata-se apenas de uma reparação formal, o dano permanece.

Definitivamente não precisa o Satanista deste tipo de atitude. Sendo o perdão algo que parte de um pressuposto moral de cunho religioso (de uma forma geral) sem qualquer utilidade prática, não há nada que nos motive a fazê-lo. Muito pelo contrário, o perdão é para aquele que comete a injúria o equilíbrio da balança. Ou seja, a ação nociva teve como reação o perdão, e tudo fica por isso mesmo. O que só faz mostrar que qualquer outra não terá qualquer tipo de represália.

E então entra a vingança. Na tentativa de se evitar um possível "ataque" futuro é que se revida o tapa que é recebido. É justamente por não confiar na "redenção" do agressor que mostramos a ele que uma nova atitude que venha a nos afetar negativamente terá conseqüências. Esta é a idéia chave que justifica a vingança. E sua concretização recai sobre o conceito de responsabilidade individual, o que significa dizer que caberá ao "vingador" arcar com as conseqüências de seus atos. Da mesma forma que a partir disto considera-se o indivíduo como aquele que pode e deve agir por suas próprias mãos, sem ter de esperar pelo Estado, por exemplo.

Neste ponto reside então o grande foco das críticas dirigidas à vingança Satanista. Diriam: mas ora, não seria parcial demais querer a vítima medir sua própria vingança?

De fato, elevar o indivíduo a promotor de acusação, vítima e juiz do próprio julgamento abre margem para a parcialidade, entretanto, quem mais poderia medir a dor sentida?

Na tentativa de solução do embate, entra o Estado, o terceiro elemento, o que se coloca longe o suficiente de acusado e vítima. Seria ele então o responsável pela segurança de seus cidadãos bem como seu aparato coercitivo funcionaria para que a justiça fosse feita. Entretanto, em um país como o Brasil por exemplo, onde a deusa Themis caminha a passos lentos, caberia esperar tanto? Dizendo que não, teríamos então outra contra-argumento: mas ora, se cada um fosse querer agir por suas próprias mãos, viveríamos em um caos!

E qual a solução deste problema? A resposta está no próprio indivíduo. Somente ele seria capaz de, primeiro, determinar a partir de seu revés como seria a ação equivalente a ser realizada contra o agressor, e segundo, se caberia a ele próprio ou ao Estado atuar de forma a se fazer o que para ele seria justo.

E mais uma vez questionariam: mas ora, então recaímos na mesma possibilidade do caos, uma vez que não podemos assegurar que toda decisão individual seria de fato justa!

E para resolver isto é que precisaríamos então nos lembrar de que estamos falando de uma vingança Satanista. Manifesta-se o Satanismo unicamente dizendo: vá lá e acabe com quem te machucou?

Superficialmente, estas são as palavras de ação. Mas o que não se observa por debaixo dos panos é que se o dogma nos manda revidar, é por nos considerarmos como vítimas, isto é, como aqueles que de alguma forma sofreram injustamente. Não se trata de sair matando pessoas simplesmente por esbarrarem em nós na rua, trata-se de situações específicas nas quais sofremos algum tipo de dano por uma ação intencional de uma ou várias pessoas. O próprio conceito de vingança por si só, ainda que traga consigo uma carga negativa, pressupõe nada mais nada menos que justiça!

E se o Satanismo por um lado diz "aja com os outros como estes agem com você", nada poderia respeitar mais a reciprocidade! E esta é a lei máxima que permeia todo o sistema religioso Satanista, o que nos leva crer que por mais que se desloque para o indivíduo o papel de responsável por realizar a vingança, parte ele a priori do princípio de reciprocidade que definirá a sua "sentença".

Há ainda um outro elemento que poderia entrar em questão quando se diz respeito ao fazer justiça. Existem ainda as pessoas que recorrem à divindade e a colocam como o supremo juiz. E temos coisas do tipo: Deus há de agir. Não é preciso ir muito longe, se o Satanismo parte de uma negação de entidades exteriores ao homem, seria inútil e incoerente tal pensamento. Pelo contrário, nossa própria religião, tomando por base justamente o princípio de reciprocidade, compreende o indivíduo como plenamente capaz de decidir como agir em sua vendetta.

Poderiam ainda dizer: compreendo que o Satanismo por si entenda o indivíduo como apto para colocar em prática seus "revides" tal qual aceita as conseqüências de tal postura, não necessitando recorrer a Deus ou ao Estado, tendo ainda a base moral necessária, fornecida por seu próprio sistema religioso que promove a reciprocidade, o que equivale ao equilíbrio da justiça. Entretanto, parece-me curioso uma religião que enaltece a vingança, o que pressupõe um seguidor que estaria a todo o tempo sofrendo algum tipo de agressão! Mais do que isto, não seria o ato da vingança considerado pelo agressor uma injustiça, ou seja, ficaria um querendo revidar no outro, o que só levaria à uma luta sem fim?

Tais questionamentos são plenamente válidos, e sobre eles falo na Parte 2 do texto.

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