Recomendação do Recanto




"Não subestime o desprezo absoluto das pessoas. Tornar-se um pária não é fácil. As pessoas acreditam que o diabo é Satan. Ignoram que o mundo é muito mais antigo que o cristianismo. Tudo para essas pessoas ignorantes é coisa do “diabo”. E julgam, recriminam e segregam. Ainda que isso seja um pecado diante de Deus. Porém, estranhamente é exatamente esse comportamento hipócrita e preconceituoso que a Igreja incentiva. É tudo tão absurdo. E afinal o que são os pecados? É uma maneira de controle do ser humano, de condená-lo, de inserir culpa pelos seus desejos naturais, de submetê-lo, de castrar seus pensamentos. É tudo tão ridículo."

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Por um status de Religião - Parte II

Escrito por Recanto do Opositor

Continuação da parte I:

Como se lembram, Satanismo é religião. E na superficialidade da grande maioria dos discursos ateus, que são os que mais inflamam o adolescente revoltado que vê em Darwin e Dawkins seus pastores e no ateísmo a pólvora que vai acabar com os problemas da religião; o que se tem é um ataque ao cristianismo, mas que acaba englobando toda e qualquer religião. Pois é claro, nenhum ateu diria "oh, vamos atacar a Igreja católica e cia.". Seria tachado de anticristo, intolerante e outros adjetivos mais. Melhor é ser menos "direto" e falar de religião "no geral".

E quem acaba sendo colocado neste saco de gatos? Sim, as idéias de nosso querido LaVey. E qual a conseqüência? Uma pirraça coletiva na pracinha entre as crianças, que polvorosas gritam: MAMÃE, SE É RELIGIÃO NÃO QUERO!

Não adianta. O cara pode concordar com cada linha da Bíblia Satânica, colocar em prática cada conceito e dogma, fazer os rituais tais quais LaVey sugere, mas não, ele não estará seguindo uma religião. Seguir religião não pode.

E então entra a pergunta: será que é realmente assim tão ruim seguir uma religião?

Em primeiro lugar, se partimos do pressuposto, como coloquei anteriormente, que de fato se aja de acordo com seus pressupostos, qual o problema do simples rótulo? Ou seja, se seguimos preceitos Satanistas, por qual motivo haveríamos de recusar dizer que nossa religião é o Satanismo? Discrição? Não. Pois se é pra falar "filosofia Satanista" todo mundo diz. O "satanismo" continua. O problema é mesmo com "religião".

Não seria muita falta de segurança e confiança em si mesmo negar a própria conduta simplesmente por que não está mais na moda ter uma religião? O que determina a nossa vida? Os livros que lemos, ou nossa interpretação deles? Será que podemos de fato considerar a religião como um elemento alheio ao indivíduo? Como se a ela pudéssemos atribuir, pura e simplesmente, todo e qualquer tipo de problema? Seria de fato o cristianismo o problema, ou os cristãos? Teria o pobre coitado de Jesus realmente ensinado a ser hipócrita, materialista, ganancioso e intolerante? Se o messiah aparecesse hoje ficaria ele feliz e satisfeito? Em quem se encontram os problemas? Num sistema religioso metafísico independente do homem, ou nele próprio? Será que ao abolirmos a religião estaremos acabando com os problemas que o próprio homem cria para si?

O que ocorre é que o fato de seguirmos uma religião não quer dizer lá grandes coisas. Principalmente quando se fala em Satanismo. A primeira grande "religião contra-religiosa" é a verdadeira prova de que um sistema de proposição de condutas aliado a uma sugestão ritualística pode perfeitamente manter o indivíduo dentro de sua liberdade, de seu pensamento crítico, de seu ceticismo, de seu poder de escolha e decisão. Se o cristianismo dos ateus, e até de alguns Satanistas anula tudo isto, o Satanismo não. Portanto, muita calma quando for generalizar religiões.

O grande problema desta difícil aceitação, de ser o Satanismo de fato uma religião, reside no fato de que, negando isto, retiramos a estrutura do Satanismo como um sistema organizado de idéias. E dele retiramos a identidade, a unidade.

Não podemos compreendê-lo como ciência. Não há objeto, método, nem quaisquer buscas por verdades. Não podemos compreendê-lo como filosofia. Não se trata de uma disciplina a partir da qual desenvolvem-se um pensamento filosófico. Não se trata de uma teoria de explicação. E ainda que tenha seus argumentos, penso ser demais querer colocar Bíblia Satânica e Platão na mesma estante. Satanismo não possui uma "originalidade filosófica", se podemos dizer assim. Ele parte de várias concepções dentro desta área do conhecimento humano, mas não se configura em unidade como tal. Também não podemos compreender o Satanismo como uma manifestação artística. Além de possuir características que o distingue desta, como proposição declarada de conduta e sugestão ritualística, não podemos elevar alguns símbolos e metáforas a uma expressão assumidamente artística. Assim como não há qualquer meio de transmissão especificamente Satanista dentro de uma das sete artes. Ainda não...

Ou seja, alocar o Satanismo dentro de um grupo ao qual não pertence, não somente descaracteriza este, como nega o caráter essencialmente religioso daquele! Não precisamos ficar nesta busca desesperada de encontrar uma filosofia satânica, uma arte satânica, enfim, basta que compreendamos a religião como simplesmente ela é! E mais do que isto, compreender como Satan brinca com este jogo de títulos! Pois ora, Satanismo é a religião do dogma que se escolhe seguir, é a religião da crença que se opta acreditar, é a religião que propõe a conduta que se decide seguir, é a religião do símbolo cujo significado se deseja atribuir!

Somos a religião do ceticismo, do Estado laico, da secularização. Somos a religião que se coloca no papel de religião. Não nos propomos a explicar fenômenos físicos naturais, não nos propomos a responder questionamentos ontológicos ou existenciais, não nos propomos a ser uma expressão da criatividade humana sob forma de pintura, escultura ou poesia. Somos religião. Quando queremos entender a evolução, Satan nos manda ler Darwin. Quando queremos refletir sobre as causas primeiras das coisas, Satan nos manda ler Platão, Nietzsche, Heidegger. Quando queremos compreender o humano em sua essência a partir de sua imaginação e capacidade criativa, Satan nos manda ler Guimarães Rosa, ver um quadro de da Vinci, ouvir uma sinfonia de Beethoven.

Aquele que trata de negar um rótulo ou inventar outro, nada mais faz senão cair numa ilusão de auto-suficiência que o pensamento religioso por si não pode oferecer. E este é mais um dos grandes perigos que tenho visto com o fogo sagrado do Inferno, com o qual gostamos de brincar. Nossos demônios não são os locais que vamos visitar, mas sim os nossos guias; aqueles que nunca nos deixam em inércia permanecer.

Cabe então a cada um de nós satisfazer-se com um quarto de espelhos, ou decidir viver o mundo que lá fora floresce. Manter-se estático é uma escolha. Jesus foi crucificado. E você? Quer construir a própria cruz e pregar-se a ela? Apenas invertê-la, não resolve.

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