Continuação da Parte I...Mas ora, quais então seriam estes elementos?
Anjos, demônios, personagens de mitologias, o próprio diabo cristão em si, baphomet, cruzes invertidas, predominância de cores negras, imagens que nos remetam a dor, à escuridão, cenários soturnos, ambiente noturno, melancolia, sangue, destruição, sombras; enfim, há uma lista enorme de tudo aquilo que poderíamos chamar de elementos constituintes de uma típica produção artística sendo rotulada como Satânica. Retoma-se então a pergunta: são estes exclusivos do Satanismo? É claro que não podemos fazer um catálogo de todas as imagens, figuras e símbolos e suas respectivas histórias, entretanto, neste pequeno conjunto de elementos que citei, fica claro que não há entre eles qualquer "originalidade satânica", ou seja, não se trata de produções essencialmente Satanistas. O que podemos dizer é que, ainda que não agrade a alguns, não há uma fonte de elementos considerada de forma primeira como Satanista, isto é, mantendo uma relação direta com o Satanismo enquanto religião. Desta forma, o que deve ser entendido é que o Satanismo se vale de elementos de narrativas, de determinadas escolas artísticas, de movimentos literários, e até os modifica à sua forma, de fato; mas se trata de uma
apropriação, e não de uma forma nova, primeira, de "gerar elementos" "originalmente satanistas".
Entramos então no segundo ponto. Estes elementos são uma expressão do Satanismo? Isto é, apresentam eles elementos que fazem parte do sistema religioso de idéias que é o Satanismo? Tratam estas ditas obras de arte Satânica de valores, noções, princípios e dogmas do Satanismo? Ou será que estamos apenas a falar aqui de uma mera apropriação estética, superficial, exterior? É claro, e isto não pode ser deixado de lado, que a própria apropriação de elementos x, y e z ao invés de elementos a, b, c de alguma forma já expressam uma certa "identidade" Satanista. Mas ora, ficamos apenas no nível do visível, no nível do primeiro impacto, no nível da forma.
Buscando então produções que, mais do que utilizarem uma aparência não "originalmente" Satanista, também apresente um caráter de conteúdo de valores e idéias Satanistas, é que nos deparamos com uma situação, que, ao menos a meu ver, é muito clara: não há um quantitativo considerável de produções artísticas essencialmente Satanistas. Há sim a fortíssima rotulação, mas não a produção propriamente dita. Todos buscam desesperadamente taxar isto ou aquilo de Satânico, mas ninguém possui capacidade e/ou vontade de fazer um trabalho sério que vá além do visual, do externo, da forma; que traga também reflexões sobre o Satanismo enquanto um sistema de idéias! E ora, isto é mais que natural: se nem ao menos praticantes suficientes temos, que dirá "artistas" para produzirem algo com base no tema. Somos obrigados a ficar no nível da retórica, da dissertação, da argumentação; isto quando o temos.
Assim sendo, é fundamental refletirmos sobre o que de fato é Satanista e o que querem que seja Satanista. E não somente isto, os próprios Satanistas só têm a ganhar se for incentivada a produção, a reflexão, as leituras. Podemos atribuir a esta questão das produções artísticas os mesmos problemas com relação ao próprio Satanismo em si, no que diz respeito a seu desenvolvimento, reconhecimento, conhecimento; enfim, como já disse por sinal em outros momentos.
Vamos rotular menos e produzir mais. Eis o caminho. Muitas vezes o rótulo apenas satisfaz as necessidades superficiais de uma atitude pautada pela auto-afirmação, e são justamente estas necessidades que, uma vez satisfeitas, (devido à vastíssima gama de "coisas Satânicas" das mais diversas formas, cores e tamanhos) é que irão fomentar preconceitos, contribuir com a limitação do pensamento, enfim, fazer com que o indivíduo se sinta cada vez mais conivente com sua superficialidade. E enquanto isto, ninguém fala sobre Satanismo, ninguém debate sobre Satanismo, ninguém produz obras que tomem por temas elementos da religião Satanista. Ora, onde está então a tal arte Satânica?
9 de agosto de 2010 às 07:06
Falandos apenas sobre música, vasculhei bastante por aí e encontrei promessas...
http://www.myspace.com/crepusculodosidolos
http://www.myspace.com/lifeisaliee
diz ae Vítor...
9 de agosto de 2010 às 07:29
Com relação a este Crepúsculo dos ìdolos, confesso que não gostei muito da música não. Até curto Black Metal, mas algo com toques mais "symphonic", como dizem, ou então um som com uma pegada mais antiga, algo como o "I" do cara do Immortal, sem ser aquela barulheira desenfreada toda. Como se não bastasse isto, veja o que temos no próprio MySpace da banda:
"Erra os que nos chamam de Satanistas. Não possuímos ídolos. La vey é cristão ressentido. Aproveitando-se das idéias de Crowley escreveu seu livro confuso. Confundem-se Homem, Deus e Satã, em uma inversão barata do cristianismo: “9. Satan tem sido o melhor amigo que a igreja já teve, pois ele cuidou dos seus negócios todos esses anos!” (Bíblia Satânica). Bíblia? Satânica? Ah!"
Suas críticas até tem algum sentido e pode-se até colocar em questão alguns resquícios do dito acima, entretanto, levando em conta a discussão sobre uma arte "essencialmente Satanista", ora, os próprios artistas declaram que não se trata de uma, aliás, de forma bem direta por sinal.
Com relação à segunda banda, achei o som mais interessante, mas não consegui ver nenhum elemento da religião Satanista por lá.
Não sei se você pegou a idéia do texto; o lance não é ser apenas negro, barulhento, sombrio e obscuro, é preciso que saiamos desta parte mais "superficial" (que nada de superficial tem, diga-se de passagem) para que consigamos numa produção artística uma tentativa de discussão ou uma temática de conceitos e idéias da religião Satanista.
10 de agosto de 2010 às 09:54
Se o indivíduo encontrar o equilíbrio justamente no fato de não admitir o satanismo?
Ele deixa de ser satanista?
11 de agosto de 2010 às 05:43
Não sei se você pegoua a idéia do Satanismo...
11 de agosto de 2010 às 07:44
Equilíbrio, bem estar e satisfação com suas idéias e modo de agir não são algo exclusivamente Satanista. Podemos dizer que qualquer sistema religioso se propõe a isso, ou ainda, indo além com um clichê, que estes são os grandes objetivos da vida de qualquer pessoa.
Assim sendo, não basta que se alcance o equilíbrio a partir de uma base não Satanista para que se possa ser rotulado um. E bem, é tudo uma questão de rótulo...
Se você se sente bem fazendo exatamente o contrário daquilo que a religião Satanista prega, ótimo, sem problemas, ninguém vai querer convertê-lo ou se preocupar com seus atos e pensamentos. Mas ora, simplesmente não seria coerente uma denominação Satanista, uma vez que você não parte dos princípios da religião.
3 de dezembro de 2011 às 09:10
Olá Victor, eu já tinha me questionado quanto á essas questões de "Arte Satânica" (também porque sou uma admiradora de artes), mas só gastei uns segundos pensando nisso.Foi bom ter encontrado seu blog (que foi recomendado pelo "outubro" da APS), e tive que concordar com seus textos.
Aliás, se quiser, dê uma olhada nas artes desse membro ativo da CoS que divide suas artes em categorias, inclusive na última categoria temos uma arte verdadeiramente satânica, creio que você vai gostar.
http://www.corvisnocturnum.com/
É só clicar em "Art Gallery"
Abraços.
24 de abril de 2015 às 11:57
Cara seu blog realmente e uma bosta,diga a,nós o que e então o satanismo em sua visão!